Um dos acessórios mais utilizados no transporte de cargas é o chamado “suspensor de eixo”. A função desse dispositivo é manter o eixo do veículo elevado, quando na condição sem carga. Isso proporciona alguns bônus e ônus, como veremos a seguir:
Bônus do uso do suspensor de eixo
- Economia dos pneus do eixo levantado;
- Economia de diesel, pois reduz a “resistência ao rolamento” do conjunto ao colocar menos eixos no asfalto;
- Redução do arraste lateral e da demanda de tração nas curvas;
- Aumento do peso na tração do caminhão-trator quando suspenso o 1º eixo da carreta, dando-lhe maior capacidade de tração e estabilidade (o benefício é perdido caso sejam suspendidos o 1º e o 3º no tandem triplo da carreta);
- Redução do custo do pedágio nas rodovias concedidas.
Ônus do uso do suspensor de eixo
- Aumenta a área de varredura (largura ocupada na curva), pois aumenta a distância entre eixo no conjunto caminhão-trator+carreta;
- Aumenta o balanço traseiro da carreta, se levantado o último eixo, podendo ultrapassar o limite legal de 3,5 metros;
- Reduz a estabilidade lateral nas pistas molhadas (com atrito reduzido).
Obviamente, o pré-requisito para acionar o suspensor é que o veículo esteja vazio ou com pouca carga, e, neste caso, que os pesos nos eixos restantes no piso mantenham-se compatíveis com a legislação.
Acionar o suspensor na condição com carga normal é ilegal, pois sobrecarrega a suspensão, especialmente pneus e eixos. Em uma carreta “Wanderléia” carregada, por exemplo, suspender um eixo significará que os outros dois estarão trafegando com aproximadamente 13.200 kg. Isso pode exceder os limites técnicos dos pneus e do eixo, além de ser extremamente prejudicial para o pavimento.
Suspensor de eixo na chuva: levantar ou não?
Muitos dizem:
1 – “É melhor levantar, porque o eixo que permanece no piso fica mais pesado”;
Enquanto outros dizem:
2 – “Fica mais fácil escorregar de lado e ‘varrer’ a pista”.
A estabilidade lateral em curvas e manobras é basicamente garantida pelas forças laterais transmitidas dos pneus para a pista. Essas forças geradas nas curvas estão relacionadas às características dos pneus e a carga vertical sobre os eixos. Quando aumentamos a força vertical sobre o eixo, aumentamos a força lateral transmitida do pneu. Contudo, a relação entre a força lateral e a carga vertical no pneu não é linear.
Assim, quando transferimos o peso de dois eixos para um único eixo, estamos diminuindo a soma total das forças laterais, comparada com a soma das forças geradas caso os dois eixos estivessem no piso. Com isso, temos uma redução na estabilidade lateral do veículo.
Portanto, a segunda opinião tem razão: aumenta-se o risco de escorregamento lateral com eixos suspensos na chuva.
Com apenas um eixo no piso, as forças laterais são sensivelmente reduzidas, conforme ilustrado a seguir. Com isso, perde-se em segurança, especialmente em pistas de baixo atrito, como no caso de chuva.
Por isso, é boa prática baixar os eixos, mesmo na condição sem carga nos veículos, quando na condição de pista molhada (baixo atrito).
Baixar o eixo, mas não apenas
A segunda condição para que os pneus transmitam forças laterais é que eles girem. Pneus travados praticamente não transmitem forças laterais e o veículo pode deslizar mesmo com os eixos no piso. Por isso, é importante que o sistema de freios ABS (obrigatório nos veículos de fabricação a partir de 2014) esteja operante em todo o conjunto.
Também é possível perder a estabilidade sem frear o caminhão. Por exemplo, quando o motorista alivia bruscamente o acelerador em uma curva com pista de baixo atrito: o freio-motor desacelera apenas o caminhão-trator e pode desestabilizar os semirreboques. Os motoristas, portanto, devem ser orientados para essa condição.
Clique aqui e confira alguns exemplos de caminhões na chuva e com eixos suspensos.
Fica a dica: na chuva, vá mais devagar e baixe os eixos, mesmo na condição sem carga!
Eng Rubem Penteado de Melo,
rubem@trs.eng.br
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